segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

CORISCO, BRAÇO DIREITO DE LAMPIÃO

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011


Joãozinho de Donana

Por: Reinaldo Passos

Dando prosseguimento a série de homenagens aos cidadãos pinhãoenses, chegou a vez de João Batista da Costa, mais conhecido em Pinhão como Joãozinho de Donana.

Joãozinho de Donana nasceu no povoado Lagoas em Pinhão no dia 04 de Julho de 1914. Ele foi vereador em Itabaiana por dois mandatos. Foi exator nas cidades de Pinhão e Itabaiana, foi delegado de polícia em Itabaiana e também caminhoneiro.

Em Pinhão, o povo o conhecia como Joãozinho de Donana ou Joãozinho Veneno. Já em Itabaiana era mais conhecido como Joaozinho da Padaria.

Ele era irmão do primeiro prefeito de Pinhão, o senhor José Emigdio da Costa Filho, mais conhecido como Costinha.

Com o falecimento do irmão Costinha em 1969, Joãozinho de Donana, pediu transferência da exatoria de Itabaiana para a exatoria de Pinhão, afim de ficar mais próximo dos familiares.

Joãozinho faleceu em 05 de janeiro de 2007 deixando o meu pai Manoel de Benício, seus amigos e familiares muito entristecidos com sua partida. Manoel de Benício era muito amigo dele e os dois passavam horas e horas proseando.

Quem teve o prazer de ter um "dedim" de prosa com ele, não deixou de ouvir relatos das passagens de Lampião e seu bando pelas terras pinhãoenses.

Joãozinho foi matéria do CINFORM no dia 06 de maio de 2001 na edição 942. Confira alguns trechos:

Segundo ele, o bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, esteve duas vezes em Pinhão. A primeira, na manhã de 22 de abril de 1929. A segunda em 1938.
Em 1929, dez cangaceiros invadiram a cidade. Além de Lampião, estavam presentes Corisco, Virginio (cunhado de Lampião), Arvoredo, Zé Fortaleza, Volta Seca, Ângelo Roque, Ezequiel Ferreira (irmão de Lampião) Luiz Pedro e Luiz Mariano.
"Nunca vou esquecer aquele dia", rememora o aposentado Joãozinho Batista da Costa. Segundo ele, Lampião estava em Pinhão para conseguir munição e dinheiro.
 "Ele não ameaçava, nem, bolia com ninguém. As únicas coisas que fez foi andar pelas bodegas, procurar munição na cidade e nos mandar pegar alguns cavalos. Depois pediu que algumas pessoas fizesse uma cota entre os moradores para ajudá-lo"
"O bando de Lampião e a volante comandada pelo Tenente Menezes trocaram tiros e por sorte ninguém de Pinhão morreu"
"Na passagem do bando de Lampião em 14 de outubro de 1938, o cangaceiro Zé Sereno matou o soldado José Paes da Costa".
Joãozinho conta que: "Quando chegou a volante, que veio brigar aqui à noite, o Zé Sereno pediu ao soldado José Paes, que era amigo deles, para tirá-los da cidade, porque eles não conheciam muito bem a região. Zé Paes saiu com os cangaceiros e, mais adiante, depois de tê-lo guiado, sem mais nem menos Zé Sereno atirou nele, pelas costas, na traição. Não tinha motivo, foi só maldade."


 Pesquei no açude de: Reinaldo Passos


Adendo Lampião Aceso
Lembrando que o Sr. Joãozinho além de compadre foi responsável pela criação de uma filha de Dadá e Corisco a Sra. Maria do Carmo que hoje reside em Salvador-BA. Eu estive presente ao reencontro dos dois em julho de 2007 no povoado Alagadiço município de Frei Paulo - SE.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010


Silvio Bulhões, o filho de Dadá e Corisco.


DADÁ (anos 20)
Há pouco o nosso amigo colecionador e reverendo Ivanildo Silveira postou uma raridade com Dadá Clique aqui . Venho agora colaborar com um trecho de uma entrevista feita por mim, juntamente com Paulo Gastão, Valdir Júnior e Kydelmir Dantas com o economista Sílvio Bulhões, filho de Dadá e Corisco, no qual ele nos fala do massacre da Fazenda Patos, contado por Dadá e ele.

Sílvio é de uma simplicidade sem tamanho, realista ao extremo, pois sabe perfeitamente da realidade vivida por seus pais, conhece a história de sua mãe como ninguém, e nos narrou o que ouviu dela ao longo do tempo.
 Aderbal Nogueira e Silvio Bulhões exercícios na "Academia".

Espero um dia fazer um vídeo sobre a história do seu batizado, pois entre todas as histórias que ouvi até hoje, nunca escutei nada tão emocionante, é uma coisa tão forte que é quase impossível você ouvir contada por ele e não encher os olhos de água. Embora Corisco fosse uma fera e Dadá uma mulher de fibra, a história de Sílvio quando bebê sendo batizado é simplesmente extraordinária.


OBS: participação especial do nosso querido Alcino Costa.

DADÁ ( perto do túmulo de CORISCO, ao lado dos ossos do companheiro)
Abraço
Aderbal Nogueira
Documentarista.

quinta-feira, 10 de junho de 2010


Da certidão de óbito ao nascimento do mito:

Corisco e o cangaço na cena cultural e cinematográfica do Brasil

Por Cláudio C. Novaes

Analisamos o atestado de óbito de Cristino Gomes da Silva (Corisco) como um lugar de produção de imagens culturais que tensionam o discurso oficial sobre a performance do mito popular do cangaceiro no imaginário social e do cinema, fazendo um contrapondo entre filmes do cinema novo como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963), de Glauber Rocha ; e Corisco e Dadá (1994), de Rosemberg Cariry, com o retorno do mito de Corisco na ficçâo cinematográfica do Brasil.

Este texto nasceu do encontro com a Certidão de Óbito de Cristino Gomes da Silva, durante pesquisa sobre a representação do Nordeste na Literatura e no Cinema, ao percorrermos as trilhas do Cangaço e do Messianismo brasileiros nas páginas, nas telas e nos documento oficiais. A linguagem do documento nos deu as pistas para lermos o discurso legal sobre a morte do último personagem da epopéia trágica do cangaço no Brasil, mas deu também pistas para lermos as “rasuras” no discurso nacionalista moderno sobre o mito da violência agrária do país. Apoiaremos a nossa análise da ficção cinematográfica brasileira de cangaço na tensão entre o discurso do perito na Certidão de Óbito de Cristino Gomes e as lendas locais, os discursos históricos e antropológicos sobre o mesmo tema do cangaço.

Assim, problematizamos a ética e a estética da mitificação do cangaceiro no cenário da política cultural brasileira dos anos 1950/1960, período no qual começa a internacionalização do cinema brasileiro, com o primeiro modelo clássico no filme O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto. A tese principal que defendemos aqui é de que o aspecto documental e ficcional das narrativas naturalistas brasileiras, principalmente o hibridismo estilístico cinemanovista e contemporâneo, tem a fonte nos discursos dos documentos oficiais jurídicos e jornalísticos sobre o cangaço, pois estas linguagens jurídicas e jornalísticas são contaminadas pela informalidade que desrecalca as imagens populares dos mitos que rasuram os limites entre a verdade histórica e a verossimilhança ficcional.

O mito de Corisco aparece da força performática na narrativa documental e ficcional produzida por jornalistas, fotógrafos e cineastas e policiais da época. Desde o cinema primitivo e o cinema clássico, de 1920 a 1950, estas imagens ganham força no projeto cultural literário nacional-popular inaugurado no regionalismo de 1930 e no cotidiano da imprensa moderna, popularizando-se nos romances e telas de cinema, como é o caso da extraordinária aventura do mascate libanês Benjamin Abrahão, registrando, no ano de 1936, as mais conhecidas imagens de Lampião e seu grupo, inclusive fotografando Corisco no ambiente real da luta dos cangaceiros no interior do Nordeste brasileiro.

Imagens estas já foram reutilizadas em filmes documentais do cinemanovismo, como Memórias do Cangaço (1963), de Paulo Gil Soares; e em filmes de ficção da retomada do cinema brasileiro, como Baile Perfumado (1997), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas. Enquanto personagem principal do ciclo cinematográfico brasileiro de cangaço, Corisco tem várias representações, algumas mais históricas da ação do cangaço; outras mais marcantes na estética inovadora. A performance dramática deste personagem nofilme Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963), de Glauber Rocha, por exemplo, tem conseqüências políticas e estéticas definitivas para compreendermos a alteridade do discurso nacionalista no Brasil, tornando-se uma das obras inaugurais da ficção revolucionária do cinemanovismo; já a performance épica do filme de aventura Corisco, o Diabo Loiro (1969), de Carlos Coimbra, marca a permanência da linguagem melodramática clássica do cinema sem maiores repercussões políticas fora da tela, durante o período de censura do cinema nacional; e mais recentemente, o filme Corisco e Dadá (1996), de Rosemberg Cariry, marca a heterogeneidade do tema do cangaço na perspectiva crítica da contemporaneidade, buscando na performance do mito do cangaceiro uma representação da imagem da nação estilhaçada no espelho fragmentado.

A narrativa deste filme é trágica-dramática-lírica, sendo, ao mesmo tempo, enredo de aventura para a indústria cultural e também uma reflexão sobre a identidade fragmentária do mito agrário no mundo urbanizado, traço que caracteriza grande parte dos filmes da retomada pós-1990, quando os diretores articulam as teorias da cultura e da semiologia, revisitando as fontes literárias modernistas e dos cinemanovistas; e lendo com outros olhares os discursos dos documentos oficiais sobre o cangaço.

A Certidão de Óbito de Cristino Gomes da Silva de 27 de Maio de 1940 é um exemplo marcante, pois registra a morte do cangaceiro juridicamente, mas possibilita uma leitura que recompõe a tensão do discurso informal no jogo entre o documental e o ficcional, estratégia que consolidou o cinema moderno brasileiro sobre a temática histórica e social do cangaço. O poder do discurso oficial no documento procura desmistificar o discurso popular que engendra o mito do cangaço na memória nacional, mas a tensão entre os discursos pode ser flagrada na leitura em contraponto, articulando o texto reativo da escrita oficial sobre as condições da morte do cangaceiro com a escritura performática e ficcional que ativa a vida / morte do personagem Corisco na mitologia cinematográfica. Entre os vários filmes desta temática, selecionamos aqui dois deles, para estabelecermos este contraponto entre a política cultural da cinematografia brasileira e a política oficial do discurso do documento de óbito de Cristino Gomes. São os filmes: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963), de Glauber Rocha, do cinema novo; e Corisco e Dadá (1994), de Rosemberg Cariry; da retomada do novo cinema brasileiro contemporâneo.

A Certidão de Óbito original transcrita pelo oficial Evandro Cardoso de Andrade, da comarca de Miguel Calmon, Bahia, lavra a morte do cangaceiro nos seguintes termos: “Certifico que, em data de 27 de maio de 1940, no Livro n0 C 12, à fls 7 verso. sob o n0 1.567, foi feito o registro de Óbito de CRISTINO GOMES DA SILVA (vulgo Curisco)”. Neste primeiro traço narrativo da certidão, o morto tem a sua identidade apresentada com o destaque em vermelho e CAIXA ALTA do nome civil; e os (parênteses) utilizados para aprisionar o nome do cangaceiro grafado em letra regular e em vermelho, com o fonema kü grafado na forma mais popular Curisco e não Corisco, conforme a sintaxe culta mais aceita. O vermelho; a citação do vulgo entre (parênteses) e a grafia mais popular do fonema kü sugerem o ruído lingüístico de elementos populares recalcados na CAIXA ALTA e inércia do nome cartorial Cristino Gomes da Silva, que apaga a agilidade do raio significativo do nome vulgar atribuído ao mito do cangaceiro.

Os nomes – oficial e popular – são grafados no documento seguindo uma hierarquia da superioridade do primeiro em relação à inferioridade do segundo, conforme as marcas lingüísticas e gráficas da caixa alta do primeiro e da forma regular e do distintivo “vulgo” no segundo. Mas a reversão da leitura do significado pelas marcas discursivas da cor vermelha destrói a hierarquia e acende as nuances da cor vermelho / sangue, que banha a imagem da violência do cangaceiro. Esta imagem do vermelho / sangue é a marca problemática da fala do personagem Corisco de Glauber Rocha, em Deus e o Diabo, quando coloca a violência do cangaço na crise social e existencial do herói vencido na seqüência das mais emblemáticas do filme, quando Corisco baila em transe e promete matar o responsável pela traição e morte de Lampião.

Na seqüência ele contracena com o vaqueiro Manuel, com Rosa e com Dada, que não entendem a razão de tanto sangue, mas compreendem o transe do cangaceiro na autofagia da sua luta sem poder escapar da violência. Entretanto, a imagem da violência no filme de Glauber Rocha não é mais a cilada do naturalismo literário e cinematográfico tradicionais, pois a representação é construída revolucionariamente do hibridismo ideológico de traços “primitivos” do irracionalismo do cangaço, mas também vislumbra os traços de outra racionalidade dialética do cinema novo, que ativa nova compreensão sobre o cenário da violência agrária no Nordeste brasileiro. A fala de Corisco na cena desloca a categoria naturalista tradicional da violência do cangaço para um lugar político radical na história do cinema brasileiro:

Corisco – Tira os fantasma da cabeça que eu num agüento mais ver você no sofrimento... já faz três dia, é muito tempo pra quem viveu na guerra. O corpo de Maria Bonita inchou, apodreceu, os bicho agora tão comendo os olhos bonito dela... morreu Maria mas Lampião está vivo. Virgulino acabou na carne mas o espírito está vivo. O espírito está aqui no meu corpo que agora juntou os dois... Cangaceiro de duas cabeça, uma por fora e outra por dentro, uma matando e outra pensando! Agora é que eu quero ver se esse homem de duas cabeça pode consertar esse sertão. É o gigante da maldade comendo o povo pra engordar o Governo da República! Mas São Jorge me emprestou a lança dele pra matar o gigante da maldade. Ta aqui! Ta aqui o meu fuzil pra num deixar pobre morrer de fome! (ROCHA, p 274)


A transcrição da Certidão de Óbito continua desdobrando os traços “ficcionais” das informações sobre o morto: “... falecido em 25 de maio de 1940, às 17: 00 horas, nesta cidade de Djalma Dultra, comarca de Jacobina-Bahia.” Neste trecho, surgem situações discursivas relevantes, como a dos dois dias de decurso entre a constatação da morte e o seu registro oficial, o que permite inferências quanto à escolha do textodiscurso para oficializar a morte do cangaceiro, após as devidas autorizações legais, conforme requer um caso de Estado como o do cangaço, numa região praticamente sem a presença estatal, a não ser através da cobrança de impostos e da força policial.

O decurso do tempo entre a morte e o documento também pode indicar as condições de localização da luta e a deficiência de transporte na região. Mas um traço importante são mudanças estruturais da nação brasileira, configuradas nos elementos textuais e paratextuais referentes ao território do país em conformação, como na mudança do nome do distrito de Jacobina – Djalma Dultra, que após a emancipação passa a ser a comarca de Miguel Calmon. Na transcrição atual o documento é atualizado e o registro substitui a comarca sede na época da morte do cangaceiro - Jacobina, pela comarca atual de Miguel Calmon. O que parece irrelevante para a discussão identitária, assume um sentido importante, pois a reivindicação do título de sede do cartório onde está o registro da morte do famoso e mitológico cangaceiro Corisco, configura uma mudança na política cultural brasileira, pois, para a antiga comarca o importante era ter registrado em seu cartório o documento de extermínio do último cangaceiro, mas para a comarca atual o valor do documento é a preservação da memória do mito do cangaceiro. Esta mudança configura a nova política cultural brasileira contemporânea de resgate da história cultural do país.

Isto repercute com intensidade na ética e na estética cinematográfica do cangaço, que chegou a ser, durante a República Velha e o Estado Novo, no auge do cinema primitivo e do surgimento do cinema clássico, caso de polícia e de política, que repercute também na censura da ditadura militar contra a veiculação de filmes violentos que maculavam a integridade moral do país no exterior; repercute ainda hoje, quando as imagens do cangaço estimulam o público a compreender metonimicamente e metaforicamente a realidade nacional, através dos filmes que abalam a Identidade Nacional oficial, como é o caso do filme Corisco e Dadá.

Na Certidão de Óbito de Corisco surgem outros traços discursivos que dialogam mais fortemente com o mito do cangaço nocinema, causando mais fissuras no discurso do documento oficial sobre a desmistificação do “bandido social”. Vejamos os termos do documento: “sexo masculino” de “cor branca”, “profissão bandido”, “natural do Estado de Alagoas”, mas domicílio e residência “nômade”, contando “33 anos de idade” e “estado de civil solteiro”, “filho de Manoel Anacleto e Firmina Maia”, estes “residentes e domiciliados no Estado de Alagoas”. O sexo da violência no cangaço é o masculino, conforme a cultura patriarcal do Nordeste brasileiro. Mas Lampião introduziu a mulher no cangaço, passando ela a viver as mesmas experiências ativas e passivas da violência; no entanto a memória patriarcal ainda reluta em aceitar o novo papel feminino nas mesmas condições do homem.

Nos filmes de cangaço, mesmo do cinema moderno, as mulheres são geralmente vítimas do destino patrocinado pelo homem condutor da família, que não respeita as tentativas das companheiras para abandonar a violência. No filme Deus e o Diabo, uma das cenas enfoca a tensão do gênero, quando Corisco prepara os seus planos de vingança e, ao fundo da tomada, Rosa e Dadá alheiam-se à violência “masculina” e trocam carícias “femininas”. O discurso, que parece reproduzir a cultura convencional desvia-se quando a resistência de Rosa aos projetos de Manuel culmina com o assassinado do beato por ela, para livrar Manuel do inferno sebastianista que prometia o céu. A percepção política de Glauber Rocha desloca o discurso patriarcal da exclusividade masculina sobre a violência para a ação de Rosa ao matar ao beato, tendo esta violência um aspecto de liberação redentora, ao mobilizar no filme as dobras do discurso de Frantz Fanon na forma revolucionária do cinema novo, com a reversão da violência para despertar ao opressor o oprimido no ato violento assimilado e sublimado pelos dominados contra os projetos autoritários dos dominantes.

Para Frantz Fanon, “le colonialisme impliquait un univers manichéen oú l’inferiorité permanente du colonisé était tenue pour établie”. (FANON, 1991, 23) No filme Corisco e Dadá, a mulher acompanha a ações do homem, articulando a dialética do amor / dor na condição do papel feminino da donzela roubada da família, ou a mulher consciente da violência ao assumir a luta com companheiro na mesma condição, ressaltando outra racionalidade da personagem, em contraponto ao paradoxo da razão “instintiva” que associa a violência ao homem, ou masculiniza a mulher.

Na Certidão de Óbito, a questão identitária da cor “branca” atribuída a Corisco é o reflexo da memória vulgar que o populariza como o “diabo loiro”; a raça branca colada ao sertanejo encena uma contradição da teoria de miscigenação clássica, que via no branqueamento a melhora do mestiço. Mesmo “branco / loiro” atribuído a Corisco um estereótipo sem conotação étnica é importante discutirmos este discurso no documento, seguindo as recorrentes questões de raças no Brasil até hoje. Já a profissão de “bandido” instaura uma situação discursiva mais problemática ainda, devido ao inusitado uso do termo no documento oficial de óbito. O “bandido primitivo” no documento desvela o ressentimento social da escrita que desqualifica a vida social e econômica de Corisco.

Mas a história econômica do Nordeste cruza inevitavelmente com o cangaço, conforme a vasta documentação de teses como a de Rui Faço e Frederico Pernambucano de Mello, quanto à condição desprivilegiada de grande parte da população, que conduzia os jovens aos grupos de cangaceiros, grupos estes que movimentavam somas de pilhagens em negócios com mercadorias e armas, que enriqueciam muitos comerciantes, os quais diversificavam seus empreendimentos para “lavar” o dinheiro acumulado no comércio com os criminosos, sendo esta estratégia econômica da diversificação uma das condições primordiais do capitalismo moderno no Nordeste, apesar do combalido estágio econômico da região. Além do comércio nos negócios do cangaço, os cangaceiros também prestavam serviços ao latifúndio na rede de influências das disputas entre os senhores de terra na região. Ou seja, a “profissão de bandido”, conforme registra o documento, para justificar e desqualificar a morte do cangaceiro acaba por afirmar uma condição econômica fundamental da economia do sertão nordestino. Para Pernambucano de Mello:

Surpreendentemente é possível afirmar-se hoje, imagem literária à parte, que os maiores cangaceiros, entendidos estes como os chefes de grupos de maior expressão, gostavam da vida no cangaço. Num sertão profundamente conturbado pelas disputas entre chefes políticos, lutas de famílias, ausência de manifestações rígidas e eficazes de um poder público longinquamente litorâneo; sertão povoado pó um tipo especial de homem, individualista, sobranceiro, autônomo, desacostumado a prestar contas de seus atos, influenciados pelos exemplos de bravura dos cavaleiros medievais; sertão que tinha no épico o seu gênero maior, fazendo vivas páginas de um Carlos Magno e os Doze Pares de França, de um Roberto do Diabo, de um Donzela Teodora, de um João de Calais; num sertão assim anormal a olhos urbanos, o cangaço representava, na verdade, uma ocupação aventureira, um ofício epicamente movimentado, um meio de vida, ou até mesmo um amadorismo divertido de jovens socialmente bem situados, carentes de afirmação. (MELLO, 2004, 117)

Quanto aos termos da Certidão de Óbito sobre à origem do cangaceiro morto, do “Estado de Alagoas”; e ao seu domicílio “nômade”, ficam patentes outros traços circunstanciais do discurso de uma região informal na aparente formalidade do texto, circunstâncias que representam situações sociais e antropológicas fundamentais para o discurso da nacionalidade no Brasil. O deslocamento do cangaceiro entre o seu nascimento em Alagoas e sua morte na Bahia, reconstrói a divisão geopolítica da região cultural nordestina, que não se caracteriza nas fronteiras fixadas.

A gênese do nomadismo das memórias do cangaço percorre um longo corredor geográfico, atravessando as fronteiras geo-políticas do Ceará à Bahia, passando pelos territórios da Paraíba, do Piauí, de Sergipe, de Pernambuco, ou seja, por 7 (sete) Estados da Federação, dos 9 que compõem a região Nordeste do Brasil. Esta condição nômade repercute jurídica e militarmente sobre a condição federativa, levando a política de segurança do governo às estratégias de agrupamentos policiais que transitavam entre as fronteiras dos Estados, conhecidas pelo nome popular de forças militares “volantes”.

Quanto ao termo nômade utilizado na Certidão de Óbito, por certo o escrivão não levou em conta os problemas filológicos, sociais e antropológicos, muito menos, a tensão filosófica do conceito de nomadismo em relação ao termo migrante, qualificador mais comum deste personagem nordestino, tanto na nomenclatura oficial, quanto na arte regionalista tradicional. Para Gilles Deleuze (1997, 13), o nômade não é binário, mas “antes como a multiplicidade pura e sem medida, a malta, irrupção do efêmero e potência da metamorfose”, como o cangaceiro, o nômade “desata o liame assim como trai o pacto”, segundo Gilles Deleuze, (op. cit.) o nômade:

Faz valer um furor contra a medida, uma celeridade contra a gravidade, um segredo contra o público, uma potência contra a soberania, uma máquina contra o aparelho. Testemunha de uma outra justiça, às vezes de uma crueldade incompreensível, mas por vezes também de uma piedade desconhecida.

No qualificativo de nômade o escrivão flagrou a condição de Corisco e a memória coletiva do Nordeste, sendo esta a memória ativada na narrativa cinematográfica alegórica do cinema novo ao cinema contemporâneo de cangaço.

Os filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol e Corisco e Dadá refletem nas imagens da nação a preocupação ética através da estética, impulsionando a recepção do cinema moderno brasileiro para o “entre-lugar” do espetáculo de ação e a reflexão identitária. Para realizar o contraponto ético e estético é importante percebermos os elementos articulados na linguagem do cinema, através da escolha da luz e da angulação das tomadas, mecanismos que produzem os sentidos epifânicos das personagens; é também necessário observarmos o diálogo entre a ficção e os discursos sociais, antropológicos e históricos oficiais sobre o tema do cangaço. A leitura deve atentar para os traços discursivos dialógicos entre obras de arte ficcionais e documentais e os textos oficiais, como a Certidão de Óbito de Corisco, para flagrarmos os sentidos que atravessam as descrições de Cristino Gomes da Silva, como, tinha “33 anos de idade”; era “solteiro” e filho de Manoel Anacleto e Firmina Maia.

Os 33 anos de idade atribuídos a Corisco realçam a juventude etária do líder cangaceiro, mas destaca também a precocidade da morte no violento sertão brasileiro da época, paradoxalmente uma longevidade aos 33 anos de idade, pois já se consagrava o mito. A figuração mítica da idade do cangaceiro pode ainda ser um oposto simétrico do Cristo, o cangaceiro ocidental da “não-violência”. A reversão entre violência / não-violência associada à percepção da performance social e mítica do Corisco versus Cristo, ou de Deus versus Diabo, deixa marcas fortes nas narrativas cinematográficas, como o São Jorge guerreiro enfrentando o Dragão da Maldade na obra de Glauber Rocha e em toda a tradição cinematográfica de cangaço.

Já a classificação civil de “solteiro” para o cangaceiro é mais uma marca da convenção social no documento, pois sabemos que Corisco convivia com Dadá com quem teve filhos e viveu segundo as normas da Igreja Católica, informalmente, por não poderem contrair o sacramento oficialmente, pelas óbvias razões do nomadismo. Seus pais sim, estes tinham os nomes firmados e domiciliados fixamente, portanto não tinham a necessidade de serem nomeados pelos nomes vulgos, apesar de ser esta uma norma social da região Nordeste, que sempre associa a pessoa a um nome popular.

Finalmente, a Certidão de Óbito de Cristino Gomes da Silva lavrada no cartório da Comarca de Miguel Calmon diz que as informações do documento tiveram como declarante o “Sargento José Fernandes da Silva”; e quanto à atestação do óbito, o texto explicita que “não teve assistência médica”; apontando como causa da morte “tiros de metralhadora no abdomem ”, e que o corpo foi sepultado no “cemitério da consolação, desta cidade.”

O declarante militar e a ausência de atendimento médico definem as condições da morte do cangaceiro, segundo uma lógica estatal do extermínio, o que caracteriza a luta do cangaço para além do rebelde primitivo de Eric Hobsbaw, atribuindo ao combate militar um aspecto de guerrilha com repercussão social e política, transformando o cangaço em mito no meio intelectual. Já os “tiros de metralhadora no abdomem” explicitam a guerra fratricida que não dá chances de vida ao “cabra marcado para morrer”. Apesar dos tiros fora de zonas mortais, a belicosidade moderna da metralhadora canta mais alto do que o grito de Corisco em Deus e o Diabo: “mais forte são os poderes do povo”. O ato de cortar as cabeças dos cangaceiros confirma esta descrição da morte marcada.

A cabeça cortada no plano real da luta entre o cangaceiro e o Estado é a imagem repetição do discurso ideológico oficial dos documentos sobre as trágicas epopéias populares da história social do país. Contudo, os mitos têm muitas cabeças, como diz o Corisco de Glauber, e uma delas é a memória popular que atravessa a linguagem oficial por dentro transformando as narrativas artísticas em releituras da nação oficial.

Bibliografia:

CAETANO, Maria do Rosário (org). Cangaço – O Nordestern no Cinema Brasileiro. Brasília: Avathar, 2005.
DELEUZE, Gilles. Mil Platôs – capitalismo e esquizofrenia. Trad. Peter Pal Pelbart e Janice Caiafa. São Paulo: editora 34, col. Trans, 1997, vl 5.
DE MELLO, Frederico Pernambucano. Guerreiros do sol – Violência e bandistismo no Nordeste do Brasil. São Paulo: Girafa, 2004.
FANON, Frantz. Lês damnés de la terre. Paris : Gallimard, 1991.
GALVÃO, Maria Rita e Jean-Claude Bernardet. O Nacional e o Popular na Cultura Brasileira – Cinema. São Paulo: Brasilense, 1983.
LEAL, Wills. O Nordeste no Cinema. João Pessoa: UFPB/FUNAPE, 1982.
ROCHA, Glauber. Revisão Crítica do Cinema Brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
SENNA, Orlando (org). Glauber Rocha - Roteyros do Terceyro Mundo. Rio de Janeiro: Embrafilme/Alhambra, s/d.
TOLENTINO, Célia Aparecida Ferreira. O Rural no Cinema Brasileiro. São Paulo: Unesp, 2001.
  
* Cláudio C. Novaes é Professor da Graduação dos Programas de Pós-Graduação do Departamento de Letras e Artes da Uefs contato cledson@uefs.br


sexta-feira, 14 de agosto de 2009


Zé Rufino em entrevista

O HOMEM QUE MATOU O CANGACEIRO "CORISCO"
Por Ruy Guerra

O sol do meio-dia fazia da praça de Jeremoabo/BA um imenso deserto.

Lembro-me que tudo se passou naquele ano triste de 1962, ano da morte de Miguel Torres, no acidente desse mesmo jipe agora ali estacionado, coberto de poeira, junto da única loja aberta naquele vazio do mundo.

Só não me lembro como foi que o coronel Rufino surgiu, sentado no bar, esfíngico, vestido de uma camisa e calça caqui, sem atinar muito bem o que queríamos dele. Nós, igualmente calados, sem outro intuito que o de trocar umas palavras com o homem que matou Corisco.

Mas dali para a frente tudo ficou marcado em mim com uma nitidez que chega a assustar. Cada gesto, cada palavra, cada silêncio, foi ficando através do tempo mais depurado, mais definido, mais exato. Não há um detalhe, uma palavra, um sentimento, de que eu não tenha a serena convicção que foi assim, rigorosamente como tudo se passou.

Pedi um cerveja, que chegou morna.

O coronel Rufino, e não sei porque isso devia me surpreender, pediu um sorvete de morango. O Miguel Torres, por uma dessas maldades da memória, deixou de estar presente. Houve um silêncio largo, desses silêncios de quando estranhos se medem e se perguntam a si mesmos como começar essa aventura que é a de se conhecer.

Do coronel Rufino eu sabia tudo o que me parecia importante saber: que era o maior caçador de cangaceiros ainda vivo, que há muito estava aposentado, que era natural dali mesmo, daquele sertão. De nós, imagino, ele sabia apenas que fazíamos cinema e pensávamos filmar por aquelas bandas. E não parecia particularmente interessado em saber mais. Aceitava o encontro como a inevitável curiosidade que desperta quem traz a marca de ter matado o cangaceiro mais mítico de toda a história do cangaço.

Com movimentos pausados, de quem tem toda a velhice diante de si para gastar, ia sorvendo seu sorvete de morango.

O que mais me marcou naquele encontro, logo de saída, foi isso mesmo: o sorvete de morango. A cor desmaiada do sorvete barato, a colherzinha vagabunda na mão grossa, seca, veienta, com o dedo mindinho ridiculamente afastado dos outros dedos.
Por que um sorvete, e ainda mais de morango?

Por causa desse insólito sorvete me custou a lançar a conversa.

Comecei com perguntas banais das quais já conhecia as respostas, e que não justificam o desvio que havíamos feito por aquelas poeiras calorentas do sertão para aquele eventual encontro. Se ele, coronel Rufino, havia comandado muitas volantes atrás de cangaceiros. Se toda a sua vida se havia dedicado a essa caça, se havia perseguido Lampião. Se havia dado voz de sangrar a muito bandido.

A cada pergunta, Rufino ia monossilabicamente confirmando, pausado, aparentemente mais atento ao sorvete de morango que ao óbvio questionário.

- E Corisco? O senhor matou Corisco?
- Matei.

O Coronel Rufino não era um homem alto, nem tinha nada que à primeira vista pudesse impressionar alguém que não soubesse do seu passado. Nos seus, imagino, sessenta e tantos anos, não se sentia nele um grama de gordura. Tinha um rosto marcadamente nordestino, sem emoções visíveis, uns olhos fendidos preparados para os exageros da luz da caatinga e uma voz surpreendentemente jovem.

Parecia desinteressado, embora cortês. Senti que ele estava, não ansioso, mas determinado a terminar o encontro com o final do seu, para mim já irritante, sorvete de morango.

Foi essa certeza e o sentimento da idiotice das minhas perguntas que me fizeram perguntar de supetão gratuitamente:

- O senhor, coronel, torturou muita gente?

- O coronel Rufino parou de comer o seu sorvete, a mão pesada, suspensa no ar, a meio caminho.
Pela primeira vez senti que pensava rápido, embora o tempo durasse. Depois, delicadamente, pousou a colher. Até então ele nunca me havia encarado, e continuou assim.
Limitou-se a olhar a imensa praça vazia, assustadoramente amarelada pela crueza do sol.

- Seu João!

A voz continuava controlada, e embora o tom não tivesse aparentemente subido, atravessou a distância. Foi então que eu notei que um camponês desgarrado estava passando.

O homem entrou no bar. As alpercatas de couro sem ruído, o chapéu de palha agora respeitosamente na mão, um olhar rápido para os forasteiros.

- Sim, coronel? O coronel falou num tom macio, quase afetuoso.
- Seu João, o senhor me conhece há muito tempo, não é verdade?
- Conheço sim, coronel.
- Quem sou eu?

Uma leve estranheza na voz do camponês.

- O senhor?... O senhor é o coronel Rufino.
- Eu persegui muito cangaceiro, não persegui? - Perseguiu, coronel.
- Eu matei muito cangaceiro, não matei? - Matou, coronel.

A voz de Rufino continuou, inalterada.

- Eu torturei muito cangaceiro, não torturei? A voz do coronel Rufino parecia ainda mais mansa, mais paciente.
- Eu torturei muito cangaceiro, não torturei? Os olhos do camponês correram por nós, intrigados.
- Não, coronel... Não, senhor.
- Obrigado, seu João. Pode dispor!

Com um leve aceno de cabeça para todos o camponês afastou-se. O coronel Rufino esperou que o homem desaparecesse no sol da praça e só então me encarou, pela primeira vez.
Os olhos fendidos sem expressão, talvez por isso mais inquietantes, aprisionando os meus. A voz sempre igual, mas onde se podia sentir agora, nítida, uma intensa paixão.

- "Toda a minha vida eu persegui cangaceiro. Prendi muitos, também dei fuga a muito pobre-diabo que se meteu nessa vida por injustiça que sofreu. Mas matei muitos, muitos mesmo. De bala, de faca, de todo o jeito. Era a minha profissão".

Levantou a mão, espalmada, à altura do rosto. Essa mesma mão, que até então tinha servido para comer aquele irritante sorvete de morango. Foi uma pausa curta, mas guardo aqueles breves instantes como os de uma indefinível angústia.

- "Mas esta mão, esta mão que o senhor está vendo aqui, nunca tocou o rosto de um homem, fosse quem fosse, nem do pior bandido. Porque homem a gente mata, sangra..."

Passou a mão suavemente pela própria cara.

- Mas tocar o rosto de um homem, só sua mulher e o barbeiro têm o direito de tocar".

O coronel Rufino retomou a colher e continuou a comer o interminável sorvete de morango. Lembro-me de ter sentido um imenso alívio, como se tivesse vindo de muito longe. E tinha, como compreendi mais tarde.

Daí para diante não me lembro de mais nada. Não sei como nos separamos, se trocamos mais alguma palavra - o que duvido - além de alguma banal despedida. Mas ao longo dos anos comecei a relembrar e a contar, obsessivamente, este encontro. Não com o sentimento de ter escapado de algum perigo - embora ainda hoje não esteja muito certo disso -, mas com a desconfortável convicção de ter ido tão fundo naquele sertão para ingenuamente insultar um homem na sua hospitalidade, na sua memória, no seu mundo.

Texto publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 1993, e reproduzido do livro "20 Navios", de Ruy Guerra. Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1996, prefácio de Chico Buarque, 228 páginas.

# RUY GUERRA: Cineasta, escritor, dramaturgo, compositor (parceiro de Chico Buarque, Edu Lobo, Francis Hime etc..), ator..etc..
ADENDOS IMPORTANTES:
*Corisco, morto em 25/05/1940, na fazenda Pugas (Djalma Dutra - Hoje cidade de Miguel Calmon/BA).
*O famoso cangaceiro estava aleijado dos braços.
*Segundo a literatura cangaceirista, nessa ocasião, Corisco tinha numa mala, cerca de 300 contos de réis e dois quilos de Ouro.
*Após alguns dias do enterro de Corisco ,foram retirados "o baraço direito e a cabeça", sendo levados para Salvador, onde permaneceram no Museu Estácio de Lima, em exposição, por mais de 30 anos, quando, finalmente, em meados do ano de 1969, foram enterrados no Cemitério Quinta dos Lázaros, naquela capital baiana.
*Devido a má conservação, a cabeça de Corisco entrou em processo químico de saponificação irredutível, adquirindo o aspecto de PAVOR:

Em 1972, a ex cangaceira "Dadá", procedeu a exumação dos ossos de "Corisco", na cidade de Miguel Calmon/BA (vide foto abaixo), levando-os para serem sepultados em jazigo da família, no cemitério Quinta dos lázaros/Salvador-BA, onde já se encontravam a cabeça e o braço do famoso cangaceiro.

CRONOLOGIA - DADÁ X CORISCO
10/08/1907 - Nasce Cristino Gomes da Silva Cleto, Corisco, "O DIABO LOIRO", na Serra da Jurema, perto de Mata Grande, Alagoas. Filho de Manoel Gomes da Silva Cleto e Firmina Cleto.

25/04/1915 - Nasce Sérgia da Silva Chagas, DADÁ, em Belém, Pernambuco, ás margens do Rio São Francisco, ano de terrível seca no sertão. Filha de Vicente Ribeiro da Silva e Maria Santana Ribeiro da Silva.

1916 - Corisco abandona a casa de sua familia e, vive uns tempos na cidade de Laranjeiras, Sergipe.

1923 - Corisco serve ao Exército, em Aracaju, capital de Sergipe.

05/07/1924 -Ele participa do levante militar do tenente Maynard de Araujo.

Julho/1924 - Corisco pratica um crime e deserta na Lagoa do Monteiro, Paraiba.

1927 - Ela rapta DADÁ ( também apelidada de Sussuarana ) da casa de seus pais, na garupa de um cavalo, e a leva para a residência da sua tia Vitalina, nos ermos da caatinga, ainda menina, moça. Ela tem ódio dele. Depois, transforma-se numa paixão.

1929 - Primeira foto de Corisco com Lampião, em Ribeira do Pombal, Bahia.

22/12/1929 - Ele e Lampião estão presentes na Chacina de soldados, em Queimadas/BA.

24/04/1931 - Nasce o primeiro filho, JOSAFÁ, que morre dois meses depois. A criança nasce sob intenso tiroteio do Tanque do Touro contra o tenente Arsênio.

20/01/1932 - Lampião invade a cidade de Olindina/BA e Corisco está presente no bando.

março/1932- Após uma ano embrenhado na caatinga de Santa Maria/BA, reencontra-se com Lampião.

01/05/1932 - Nasce a primeira filha de Corisco e Dadá. A criança não suporta a vida dura das persigas policiais e morre na caatinga do Raso da Catarina/BA.

11/03/1934 - Nasce o menino Luiz, em Pernambuco,mas não resiste á vida áspera e morre.

1935 - Nasce SILVIO HERMANO BULHÕES, novo varão, na Fazenda Beleza, de João Machado/AL, e é entregue ao PADRE BULHÕES, para criá-lo. Esse filho está vivo, até hoje, sendo formado em Economia.

10/10/1937 - Nasce Maria Celeste, na Fazenda Mogiana/AL, que vive hoje, em Salvador.

23/10/1937 - Corisco, juntamente com o cangaceiro GATO, comanda um violento ataque á cidade de Piranhas/AL, tentando resgatar a cangaceira INACINHA.

28/07/'938 - Massacre do Angicos/SE, quando morrem Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros. Corisco não está presente, nem Dadá.

02/02/1939 - Nasce Maria do Carmo, na Fazenda Lagoa da Serra/SE, que vive hoje em Salvador/BA.

Outubro/1939 - Corisco aleija os braços,no combate com as volantes, na Lagoa da Serra.

25/05/1940 - Corisco é assassinado pela volante do Tenente José Rufino, na Fazenda Cavaco, distrito de Barra do Mendes/BA, quando tentava fugir para nova vida fora do cangaço. Dadá é baleada e amputam depois sua perna direita. A cabeça e o braço direito de Corisco são decepados e levados para Salvador. Os restos mortais ficam enterrados naquela cidadezinha.

13/02/1969 - São sepultados,no cemitério das Quintas/Salvador, as cabeças de Corisco, Lampião, Maria Bonita, Canjica, Zabelê e Azulão, após vários anos expostos publicamente, no Museu Nina Rodrigues, numa barbárie pseudocientifica.

13/07/1977 - A cabeça, braço e o restante dos ossos de Corisco são reunidos numa mesma urna e sepultados na Quadra São Judas Tadeu, túmulo 8-A, no cemitério da Quinta dos Lázaros, em Salvador/BA.

1994 - Morre DADÁ, em Salvador/BA


FONTE: " DADÁ", do autor José Umberto Dias, pgs 97/98.

UM ABRAÇO A TODOS.
IVANILDO /NATAL/RN
No dia de ontem, mas no ano de 1940, o tenente Zé Rufino marcha mais de mil quilômetros atrás do último cangaceiro vivo. Todo o bando de Lampião havia morrido ou se entregado dois anos antes. Antes de pegar a estrada ao lado de sua mulher, Dadá, Corisco corta a cabeleira. Leva consigo apenas um revólver, 300 contos de réis e dois quilos de ouro. No dia 25 de maio, Zé Rufino finalmente o alcança, mas Corisco não se rende: "Sou homem pra morrer, não pra me entregar." É metralhado pelas costas. Ouro e dinheiro jamais foram vistos.

3 comentários:

  1. Adorei o post sobre Corisco, é um dos mais completos, visto que em muitas outras fontes só é possível consultar a história em fragmentos.O Cangaço, toda sua história e seus remanecentes me facinam. Obrigado pelo post.

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  2. A avó de meu pai e prima de Curisco!

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  3. Zé refune nunca foi gente
    Macaco desse , nunca foi gente
    Macaco safado desse
    Cururu pé de bode 😠😡
    Tem sorte que o capitão não tá vivo

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